No final de dezembro, uma cepa de corona vírus começou a circular de forma, até então, silenciosa em Wuhan na China. Semanas depois, começamos a enfrentar um colapso econômico de escala global, para o qual ninguém estava preparado.
Mas como chegamos a esse ponto? Como um vírus consegue redefinir as estruturas econômicas de forma tão rápida?
O primeiro motivo é o fato da China ser a segunda maior potência mundial, um dos maiores importadores de comodities (petróleo, minério, soja e etc.) e exportadores de produtos. Quando uma grande economia precisa fechar suas fábricas e fronteiras, gera um colapso instantâneo na cadeia de produção global, o que impacta diretamente o Brasil e explica como ações da Petrobrás e Vale, por exemplo, caíram. Dessa forma, o avanço do vírus e o fechamento de diversas fronteiras aéreas justificava como as ações das empresas dessas áreas desvalorizaram. Mas como explicar a queda geral dos índices mundiais? O índice Ibovespa, por exemplo, que atingia sua máxima histórica de 118 mil pontos já caiu para 63 mil até esta data.
Isso ocorre, pois, além do que já foi dito, os esforços feitos pelos governos para combate direto ao vírus e diminuição dos impactos na economia, como subsídios e concessões, geram dúvidas sobre a capacidade de recuperação de um país. Todo esse processo leva a uma expectativa quanto ao crescimento das empresas e nações. Assim, entra o segundo efeito, o mercado de ações, embora seja baseado em dados e estudos, é gerido e movimentado por pessoas, o que faz com que o comportamento humano impacte a economia tão quanto e até mais que eventos externos. O que abriu espaço para a psicologia financeira, uma vertente da psicologia que tem o intuito de estudar e aplicar seus conceitos no mercado financeiro e na economia. Dela tiramos dois conceitos muito importantes para explicar o que vivemos: o viés de ação e o efeito manada.
Como foi dito, as expectativas, reais ou não, geradas para as empresas e nações chegam aos investidores e gestores que, pelo viés de ação, tomam atitudes imediatas. O problema é que, em um cenário de pandemia, este viés de ação está voltado ao medo e a incerteza, o qual culmina na venda precipitada de ações. Quando isso acontece de forma abrupta, por fundos e gestores influentes, esse movimento é acompanhado em cascata, o chamado efeito manada, ocasionando quedas abruptas e em grande escala. Apesar disso, a bolsa possui cálculos para detectar o efeito manada, acionando o circuit breaker - paralisação da bolsa por 30 minutos, após uma queda superior a 10% do seu principal índice - para interromper esse processo. Todavia, tal ação nem sempre é o suficiente.
Estes comportamentos alimentam-se: eventos reais geram especulações que derrubam mercados, causando a diminuição dos investimentos, afetando a capacidade de crescimento e gerando impactos reais. Entretanto, com o fim do impacto do problema inicial, vemos o lado benéfico do efeito manada, aos primeiros sinais de melhora, o mercado entende como o fim da crise e as ações voltam a subir de forma mais consistente. Costuma-se dizer que "o mercado desce de elevador e sobe de escada", porém com os novos cortes da Selic somado ao crescimento constante antes da pandemia, podemos esperar um bom cenário a médio prazo. O importante, em momentos como esse, é não se deixar levar por movimentos do mercado, buscar informação e ter a cabeça no lugar ao tomar atitudes.
Fontes:
O que é efeito manada e como fugir desse tipo de armadilha?.Suno Research, 2019.Disponível em: <https://www.sunoresearch.com.br/artigos/efeito-manada>
China.Observatory of Economic Complexity. Disponível em:<https://oec.world/pt/profile/country/chn/>
FERREIRA, Vera .A primeira segunda feira de pânico ninguém esquece. Valor investe, 2020. Disponível em: <https://valorinveste.globo.com/blogs/vera-rita-de-mello-ferreira/coluna/a-primeira-segunda-feira-de-panico-ninguem-esquece.ghtml>
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